terça-feira, 24 de junho de 2014

Perfume de Rosas


Desejá-lo era loucura...

Brianna Donally nunca imaginou que encontraria o grande amor de sua vida tão longe de casa. 
Quando o major Michael Fallon, o sedutor oficial inglês, a resgatou da morte certa no deserto do Saara, ela se viu envolvida por uma paixão à qual era impossível resistir. 
Mas uma mulher independente e feminista, com ideias modernas para sua época, nunca seria uma esposa adequada para um duque. 
Além disso, uma amarga traição trancara para sempre o coração do atraente major... Ignorá-la era impossível!
Ainda assim, Michael também achava difícil resistir ao desejo que a encantadora Brianna lhe despertava. 
Não sabia se era efeito do luar, ou o inebriante perfume de rosas que ela usava, mas sentia-se enfeitiçado por aquela mulher. 
O escândalo era o menor dos problemas que enfrentariam. Haveria perigos também... pois Michael não se contentaria com menos que um amor verdadeiro, intenso e arrebatador...

Capítulo Um

Egito, 1870
O major Michael Fallon franziu os olhos ao contemplar o ofuscante brilho noturno do deserto. Recolheu da areia o esvoaçante lenço de seda que avistara quando desceu a últi­ma duna. O perfume de rosas misturado a uma fragrância tipicamente feminina tocaram-lhe os sentidos. Guardou o lenço no bolso do casaco e olhou para o deserto, observando a trilha do animal que perseguira durante todo o dia. Vinha seguindo dois viajantes. Onde estaria o segundo?
Pegou os binóculos e seguiu o rastro que chegava a uma torre cercada por muros de pedra. Sabia que à distância em que se encontrava era alvo fácil para um rifle. Decidiu, então, seguir a pé para a torre, deixando o camelo branco para trás.
A noite caía rapidamente, trazendo consigo o frio cortante do deserto. Michael sentia cada músculo do corpo. Três noites sem dormir o haviam deixado exausto, mas ele nunca baixa­va a guarda. Por precaução, além do habitual rifle, trazia uma pistola dentro da camisa e uma faca na outra mão.
Ao atingir os perímetros da torre, agachou-se para verificar o rastro de algum animal pequeno, quando ouviu um clique atrás da cabeça.
Seu coração quase parou.
— A única razão por que ainda está vivo é que meu rifle está sem balas — afirmou uma voz feminina, firme e decidida.
Michael levantou-se devagar. A capa que usava lhe ocul­tava as armas. Não sabia quantas pessoas mais haveria na torre. Virou-se com cuidado e encarou a inimiga, surpreso.
O que quer que esperasse encontrar, não era uma mulher de olhos azuis apontando-lhe uma arma no meio do Saara.
Ela usava uma túnica escura, que revelava as curvas de seu corpo ao luar. Tinha o rosto pálido, e uma mecha dos escuros cabelos soltara-se da trança, caindo-lhe sobre a testa.
Michael sentiu respeito pela coragem da mulher, assim como respeitava também o cano de sete polegadas apontado para seu peito.
— Então estou com sorte — respondeu, bem-humorado, erguendo os braços num gesto de submissão.
Os olhares de ambos se encontraram. Fascinado pelos lindos olhos azuis e também impressionado com o inglês perfeito da mulher, conteve o impulso de matá-la.
Não notou qualquer movimento atrás de si; sentiu apenas a forte e inesperada pancada na nuca e desmaiou na areia.
Brianna Donally sentiu o estômago revirar enquanto estu­dava o deserto pelos binóculos. O camelo branco que a segui­ra durante todo o dia estava parado a uma curta distância. Teria de ir até lá, mas receava que houvesse mais alguém no deserto escuro. Apesar de todos os esforços, elas haviam sido seguidas.
Conseguira se desvencilhar do primeiro homem que a seguira pela manhã, e que agora jazia na areia. O outro, do camelo branco, estava inconsciente no chão, a seu lado.
— Acha que o matei, Brea? — perguntou, assustada, sua cunhada Alexandra. Tirou o chapéu de aba larga, e a ferida no queixo ficou mais visível. — Não podemos abandoná-lo aos urubus, como fizemos com o outro.
— Ora, se ele desejasse um enterro apropriado, não nos teria atacado.
Brianna respirou fundo e piscou, tentando afastar os pontículos brilhantes que dançavam diante de seus olhos. Quanto tempo ainda teriam até que os homens que atacaram a caravana mandassem mais alguém no encalço das duas únicas sobreviventes?
Não gastaria suas energias para enterrar um assassino.
Precisava poupar as forças que ainda lhe restavam para pen­sar em uma maneira de saírem a salvo dali. Ficariam vul­neráveis se saíssem deserto afora, mas sem dúvida seriam encontradas se permanecessem onde estavam.
— Deus do céu, acho que vou passar mal outra vez — declarou Alexandra, pondo-se de joelhos e inclinando a cabeça para baixo.
Brianna abraçou a cunhada.
— Eu também estou exausta, mas precisamos ser fortes. Nunca cuidara de ninguém antes, e o fato de a intrépida Alexandra necessitar dela a assustava. Sentia-se responsável por ambas, e temia falhar, se é que já não tinha falhado.
Haviam recolhido do beduíno duas pistolas e uma faca, mas esta era inútil para elas, pois era pesada demais para que conseguissem manejá-la. Um dos rifles que trouxeram estava sem balas, e o outro se quebrara quando Alexandra golpeara o estranho.
Poderiam buscar o camelo, mas Brianna estava com medo de ir até lá. Na verdade, estava apavorada. Brianna Donally, ativista e legionária, partidária da política anarquista, estava com medo do escuro.
Como eram insignificantes seus problemas na Inglaterra, em comparação com o que enfrentava agora! Como eram tri­viais, quando acabara de assassinar outro ser humano por instinto de sobrevivência!
A ideia de morrer de fome não podia ser descartada. Não sabiam caçar no deserto, e a pouca água que ainda tinham estava no fim.
Brianna tocou a testa de Alexandra.
— Ao menos não está com febre — afirmou, ajudando-a a beber um pouco de água.
— É possível que eu tenha matado este homem — sus­surrou, com os cabelos caindo em cima do rosto. — Imagino como será encontrá-lo no inferno...


0 comentários:

Postar um comentário