O foot-ball, nascido na Inglaterra Vitoriana na segunda metade do século XIX, foi-se alastrando rapidamente pela Europa e pelo Mundo, graças aos muitos marinheiros e soldados ingleses que se deslocavam ao exterior, que levavam consigo bolas, e realizavam jogos em espaços públicos, desde praias a descampados nos arredores, até praças centrais, captando a curiosidade dos indígenas, espantados com aqueles grupos de homens que corriam atrás de uma bola que queriam pontapear.
Roterdão, a dois passos do Canal da Mancha, que caminhava para se tornar o maior porto da Europa, tornou-se um local óbvio para alguns dos primeiros jogos efetuados fora da Grã-Bretanha. Rapidamente, os locais começaram a imitar os ingleses, tornando seu o foot-ball, que por ali se tornou voetball.
Seria ali perto da embocadura do Mosa em 1888, inspirado nos clubes ingleses que já existiam, que nascia o Sparta de Roterdão, o primeiro clube holandês de futebol.
O que há num nome?
Tal como Roterdão foi uma cidade pioneira no futebol, também o Feyenoordsempre foi um clube à frente do seu tempo. Quando a globalização do futebol e a conquista dos outros mercados nem sequer se encontrava no horizonte dos grandes clubes europeus, já em 1973, o clube que se chamava Feijnoord, alterava o seu nome para a grafia actual, para que os não holandeses conseguissem pronunciar sem problema o seu nome.
Em 1450, Feye van der Does, deu nome a uma ilhota que tinha surgido no estuário do Rio Mosa, nas proximidades de Roterdão. Seria nessa mesma ilha, que séculos mais tarde, um grupo de jovens que jogava regularmente futebol na praça em frente da Igreja Wilhemina, reuniu-se no pub De Vereeniging para fundar um clube a 19 de julho de 1908, com o nome de Wilhemina 08 e que equipava com camisolas vermelhas com mangas azuis.
Um ano depois, o clube passou a chamar-se Hillesluise FC, filiando-se entretanto na Associação de Futebol de Roterdão e começando a disputar jogos oficiais, com vista a participar no campeonato nacional holandês.
Já que já existia um clube com a sigla HFC, os dirigentes resolveram efetuar mais uma mudança de nome, alterando-o para RVV Celeritas. Em 1912 com a promoção de divisão, e por culpa de já existir um Celeritas a jogar no campeonato, voltaram a mudar o nome do clube, escolhendo o nome da ilha junta à qual jogavam, nascia o SC Feijnoord.
Os primeiros passos
Os primeiros anos não foram fáceis. Jogando no Kromme Zandweg, a equipa que entretanto tinha subido de escalão em 1917, ia ganhando o seu espaço na cidade.
Mas esta primeira década, foram tempos em que o clube vivia à sombra do vizinho e rival Sparta. Os Kasteelheren - Senhores do Castelo - eram então a maior potência não só da cidade, mas do país, como tão bem comprovam os cinco Campeonatos da Holanda conquistados pelo Sparta até 1915.
Um dos primeiros clássicos com o Ajax, ainda nos primórdios da rivalidade entre os dois clubes (1924).
Três anos depois chegou o primeiro título, que seria reconquistado em 1928. Entretanto o velho Kromme Zandweg, tinha-se tornado exíguo para o crescimento do clube e depois de terem passado pelo estádio Afrikaanderplein, os craques do Feijenoord começam a jogar no mítico De Kuipt, inaugurado em 1937.
Com mais de 50 mil lugares de lotação, a Banheira, como ficou conhecido o emblemático estádio de Roterdão, tornou-se a casa e a alma do clube, ao ponto de ao longo dos tempos se ter tornado tanto, ou mais famoso que o próprio clube.
Desportivamente o clube também passou por uma era de grande sucesso com a conquista das Taças de 1930 e 1935, e de três Campeonatos Nacionais (1936, 1938 e 1940).
A II Guerra e a reconstrução
Em junho de 1940, a Alemanha invadiu os Países Baixos, provocando profundas alterações no país. O futebol continuou, até 1944/45, quando os aliados invadiram o país, iniciando o processo de libertação.
Durante a ocupação nazi, o De Kuipt requisitado pelas autoridades alemãs, obrigando o Feijenoord a jogar em terreno emprestado, o Kasteel, casa do Sparta.
Vitória (1x0) sobre o Benfica em Março de 1972. Na segunda mão em Lisboa, os encarnados venceriam por 5x1.
A 30 de junho de 1954, dirigentes do clube participaram numa reunião decisiva que lançou a Eredivisie, o campeonato de futebol profissional holandês. O Feijenoord participou na primeira edição, e até hoje é um dos poucos clubes a ter participado em todas as edições. Reestruturado o clube, e lançado o profissionalismo, o Feijenoord estava em condições de atacar a década seguinte com redobrado otimismo.
1961-1971: década dourada
Os anos 60 foram os anos dourados do clube, com a conquista de quatro Eredivisie num espaço de nove anos, ao que se somaram mais duas Taças da Holanda e as primeiras presenças destacadas nas competições europeias, onde em 1963 chegou à meia final da Taça dos Campeões, empatando com oBenfica 0x0 em casa, e cedendo por 3x1 em Lisboa.
Dois anos depois, frente ao grande Real Madrid, o Feijenoord venceu por 2x1 na «Banheira», mas acabou esmagado no Bérnabeu (5x0). A rivalidade com oAjax de Amesterdão ia crescendo, reforçando a velha inimizade entre as duas cidades. E um pouco à imagem de outros países, os habitantes de Roterdão afirmavam que enquanto na sua cidade se trabalhava, em Amesterdão sonhava-se.
Festejos aquando da conquista da Taça dos Campeões Europeus.
Um ano depois frente aos argentinos do Estudiantes de La Plata, após um empate a zero em Buenos Aires, uma vitória com um golo solitário Joop van Daele, valeu o título de Campeão do Mundo. Em menos de dez anos, o Feijenoord tornava-se o melhor clube holandês, conquistando também a Europa e o Mundo.
Anos 70: à sombra do Ajax
Em 1971, o Feijenoord conquistou mais um Campeonato Nacional, mas os tempos começavam a mudar, com a ascensão do futebol total do Ajax deCruijff a tomar de assalto a Holanda e a Europa, com a sua histórica conquista de três Taças dos Campeões Europeus consecutivas.
Vitória sobre o Tottenham valeu a conquista da Taça UEFA
Na primeira época com a nova denominação, conquistaram mais um Campeonato Nacional, além da Taça UEFA, conquistada numa final a duas mãos com o Tottenham Hotspur.
A chegada de Cruijff
Após anos de declínio conquistaram a sua quinta Taça em 1980, pondo fim a um jejum de conquistas que já durava há seis épocas. Mas seria em 1983-84 que o «Orgulho do Sul» voltaria a conquistar o mais ambicionado troféu: o título de Campeão Nacional holandês.
Em 1983-84 Johann Cruijff vestiu a mítica camisola do Feyenoord e ajudou o clube de Roterdão a conquistar a dobradinha.
Magoado com o seu clube de sempre,Cruijff aceita o repto do rival e muda-se para Roterdão, ferido no orgulho e com vontade de mostrar aos dirigentes do clube de Amesterdão, que ainda tinha muito para dar.
Com o número 14 nas costas e ao lado do jovem Gullit e de Peter Houtman, Cruijff conduziu a equipa a uma época de sonho, conquistando a dobradinha e sendo premiado, mais uma vez, como o melhor jogador daEredivisie. Feliz e com o orgulho reposto, pôde finalmente abandonar o futebol.Feyenoord e Roterdão agradeciam, pois dez anos depois voltavam ao topo do futebol dos Países Baixos.
Lento declínio
E pode dizer-se que a saída de Cruijff foi o «canto do cisne» do grande clube da cidade do Mosa que começou a conquistar cada vez menos troféus. Apesar de sempre contar com alguns dos grandes jogadores holandeses, oFeyenoord viu-se claramente ultrapassado não só pelo Ajax, mas também pelo PSV Eindhoven, que em 1988 tornou-se o terceiro clube holandês a conquistar a Taça dos Campeões.
1998-99: o Feyenoord conquista o 14º título de Campeão Nacional dos Países Baixos.
Em 1998-99, sob a batuta de Leo Beenhakker, que regressara a casa dois anos antes, conquistou o 14º título de campeão, superiorizando-se surpreendentemente aos rivais de Eindhoven e Amesterdão.
Bert van Marwijk, seria o treinador do último grande sucesso guiando oFeyenoord numa campanha de sucesso na Taça UEFA. Depois de bater o PSV no desempate por grandes penalidades nos quartos de final, seguiu-se uma vitória histórica em San Siro sobre o Inter, que deixou o caminho aberto para a final que se jogava precisamente no De Kuipt. Quinze dias depois, um empate a duas bolas, valeu a presença em mais uma final.
Jogo contra o Boavista, a contar para a Liga dos Campeões.
Depois de 2003, os gigantes de Roterdão, passaram a ficar constantemente afastados da luta pelo título e dos jogos decisivos, ficando inclusivamente em 6º, 8º e 9º. Mas o fundo do poço seria atingido em 2010-11, com o clube a ficar num inacreditável 10º lugar, sofrendo pelo caminho uma humilhante derrota por 10x0 às mãos do PSV Eindhoven.
Na época seguinte, num assomo de orgulho, voltou a lutar pelos lugares cimeiros, terminando em segundo, lugar que não atingia há dez anos... Mas o caminho de regresso aos troféus e um lugar entre os grandes da Holanda e do futebol europeu - que é seu de direito - adivinha-se longo e difícil...
Fonte: Autor: João Pedro Silveira
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