Ao enunciar o tema deste livro – a depressão na gravidez– tanto no ambiente acadêmico como fora dele a reação foi sempre de embaraço, como se aos meus interlocutores tal tema desconcertasse.
Importante ressaltar que esta reação foi muito acentuada nas mulheres. Inicialmente reagiam manifestando um misto de espanto e curiosidade, para em seguida demonstrarem uma “familiaridade aliviada”.
Este alívio parecia se dever à possibilidade de delineamento ou contorno de uma experiência vivida, ainda que tal nomeação carecesse de precisão.
Chamar de depressão o entristecimento que ronda a gravidez, embora soasse estranho, seria melhor do que o silêncio que, em geral, permeia esta experiência. Concluí que a ligação entre depressão e gravidez despertava, então, algo simultaneamente familiar e estranho -Unheimlich2 – a associação dos termos sendo possivel, mas não perfeitamente cabível.
Cabe perguntar se tal estranheza se explicaria exclusivamente pela pressão cultural em direção a uma “felicidade na maternidade” como único modo possível da mulher viver a gravidez quando desejada.
Modo esse que impediria nãosó a expressão, mas o próprio reconhecimento de qualquer sentimento oposto.
Tomei esta hipótese como um fato pois, ainda que não universalizável, é um dado constatável ao nível do senso comum. Uma pesquisa com maior grau de detalhamento quanto a esta questão seria pertinente ao campo sociológico, fugindo ao âmbito deste livro.
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