Todo aparecimento de qualquer das minhas estórias relativas a esquimós, em revista norte-americana ou de outras partes do mundo, provocou um dilúvio de cartas, perguntando se os temas de que faço uso possuem base nos fatos. Por isto, desejo, agora, assentar, de antemão, que os hábitos sociais, sexuais e alimentares, bem como as crenças religiosas as práticas médicas, além de outros modos e maneiras descritos neste livro — embora circulem sob a bandeira de ficção — constituem fatos antropológicos concretos. E aplicam-se, principalmente, aos esquimós de setor central. Tais fatos são corroborados (com as devidas variações decorrentes de costumes regionais e tribais) por homens da envergadura de Fritjof Nansen, Kaj Birket-Smith, Knud Rasmussen, Peter Freuchen, Franz Boas, G. de Poncins, e outras autoridades reconhecidas em assuntos do Ártico e dos seus habitantes. Recomendo encarecidamente os relatos dessas autoridades a toda pessoa interessada em evidências documentais sobre o assunto — coisa que fica fora da finalidade desta novela.
A felicidade plena e a eufórica alegria dos esquimós são fatos tão inegáveis e inegados, como inexplicáveis e inexplicados. Há autores que preferem atribuí-las à dieta vivificante. As escaramuças ocasionais, entre missionários cristãos e a população nativa — bem como as presunções de cientistas modernos, segundo as quais devem existir depósitos de minério de urânio por baixo da calota de gelo do Ártico — não são meras invenções convenientes, concebidas com o propósito de acentuar o aspecto dramático de uma narrativa. O caso dos esquimós, que comeram seus próprios pés congelados, a fim de sobreviver — e que assim conseguiram sobreviver — é ocorrência que encontrou seu caminho para a imprensa cotidiana, que o divulgou.
Fonte: Genesis Do conhecimento
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